terça-feira, 27 de abril de 2010

Entre a Cigana e a Crente.

Andar pelas ruas deixa qualquer um a mercê de encontrar ou uma cigana ou um crente pelo caminho.
É isso mesmo. E nas duas opções a abordagem é traumática para qualquer um.
Andando alezadamente pela rua principal de meu bairro a caminho de uma reunião, me deparo com uma senhora gorda, vestida com uma cortina de puteiro, toda suada e com um olhar de
"ta fudido".
Para minha falta de sorte era uma cigana, que com sua simpatia inicial, pede para ler minha mão, puxando-a sem minha permissão. Não tive outra opção a não ser aceitar, quer dizer, obedecer a tal cigana ler as linhas da minha vida. Eu estava tranquilo, pois não acredito mesmo nisso. E ai ela começa a revelar minha vida em alto e bom tom para todo mundo que passava pelo local, me deixando constrangido. O que me deixou mais tranquilo é que eu não entendia nada do que ela dizia com aquela voz nasalada e numa velocidade parece narrador de corrida de cavalo, que acho eu, nem ela entendia o que ela falava. Ela me veio como uma coisa tipo:
- Sua vida amorosa e profissional, se encontram num vão do universo para se fundirem no acalanto supremo da desigualdade, coroando de certezas o caminho percorrido até o presente momento.
Não tive outra alternativa mais uma vez, a não ser perguntar:
- Como? Da pra repetir?
E a sacana repetiu tudo de novo. E lógico que perguntei o que significava tudo aquilo. E a explicação é pior ainda.
- Neste momento de turbulência universal, sua vida passa e transcende de plena luz, com momentos de pura energia, onde no fundo de seu ser existe a esperança de que a pomba branca traga melhoras.
- Melhorar o que? Minha cabeça para entender tudo que a senhora fala?
Neste momento ela da um sorriso de canto de boca, aquele "safadenhooo" e solta mais umas de suas perolas.
- Seus 4 filhos junto com sua mãe aparecem aqui em uma conjunção de Reis e Rainhas, onde num futuro próximo, se juntaram a você para iluminarem os caminhos percorridos até o presente momento.
- PQP. 4 filhos? Aonde? Junto com minha mãezinha? Impossível. Só tenho 2 filhos e minha mãe mora em outra cidade.
Perdi a paciência e para não ser indelicado, falei que estava atrasado para uma reunião. E ela com aquele sorriso de canto de boca novamente me diz.
- R$20,00 para ajudar a Cigana.
- Perai, eu tenho que pagar ainda essa parada? Não entendi nada, a senhora errou tudo e ainda tenho que pagar? A senhora tem certeza?
- É para ajudar a Cigana abrir os caminhos percorridos até o presente momento.
- Me desculpe minha senhora, mas, não vou pagar, e me de licença, to atrasadão.
- Atrasado vai ficar se não fizer a Cigana sorrir, pois fecharei todos os caminhos percorridos até o presente momento e apagarei todas as velas que iluminam o seu ser interior.
Dei as costas e sai totalmente pra baixo, constrangido com a situação e me perguntando: O que eu fiz de tão mal assim pra essa senhora? A não ser cruzar seu caminho? Nada!
Não me contive e olhei para traz. Que M..., ela mandou um dedo pra mim e gritou:
- Que a pomba branca preencha todo o seu caminho percorrido até o presente momento.
E fui embora totalmente pra baixo não sabendo o que o destino me reservava. E logo no outro quarteirão, vem uma senhora vestida com um vestido feito com tecido grosso de fazer sofá fechado até o pescoço, estrangulando a coitada, sem falar no calor insuportavel que tava fazendo, um sol de rachar o cérebro, uns 40º. Aproximou-se toda sorridente, faltava só o lateral esquerdo e a dupla de ataque, com um papelzinho na mão e disse:
- Aceite a palavra do senhor.
E eu novamente com minha boa vontade, peguei o papelzinho, sorri, time completo sem reservas, e agradeci. Pra que eu fiz isso meu Deus?
A mulher desandou a declamar em voz altíssima tudo que ela aprendeu com o pastor da igreja dela.
- Venha para casa do senhor e serás libertado de todo mal.
Pensei: Ou essa mulher ta de combina com a cigana ou o raio caiu duas vezes no mesmo lugar.
Calmamente respondi à senhora.
- Agradeço pela a palavra do senhor, mas, estou atrasado para uma reunião importante.
Quem disse que ela se comoveu com a minha palavra, nada, e desandou novamente a declamar em voz ultra alta.
- Porque se tu não aceitares ao senhor tu estarás condenado ao exílio do inferno.
Perdi toda minha calma e mandei.
- Perai minha senhora, eu to passando por aqui indo para uma reunião de trabalho e a senhora vem com esse papo de libertado. Eu não to na prisão não, a única prisão que tenho é a de ventre, nada que um Lacto-Purga não resolva. E no exílio do inferno ta a senhora neste vestido sauna. E tem mais, tome a palavra do senhor e vá para os quintos do inferno.
Tristonha ela me pediu.
- Pois é meu senhor, o senhor não tem pelo menos um vale-transporte para eu ir pra lá? Meu marido cachaceiro já ta me esperando de porrete na mão lá.

Mauro Condurú

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